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Gosta de natureza e quer fazer algo inesquecível? Então, por favor: viva essa experiência: escale o vulcão Villarrica, no Chile!

Primeiro: você não tem noção do quanto é difícil, demorado e maravilhoso ao mesmo tempo.

Eu busquei várias informações sobre o Villarrica. Mas se tem uma coisa que tenho aprendido é que ter conhecimento sobre algo é uma coisa. Agora VIVER aquilo é outra!

Mulher escalando vulcão cheio de  neve no Chile
Olha essa foto que demais!!! Nosso guia registrou parte da minha subida… e eu estava lá: literalmente nas nuvens!

Villarrica: um dos vulcões mais ativos da América do Sul

Um dos lugares mais sísmicos do mundo. Assim é o Chile. Tanto que ele compõe a lista de países “abraçados” pelo Círculo de Fogo do Pacífico.

Vale lembrar que o Chile também fica na Cordilheira dos Andes, onde há um vulcão a cada 100 km, segundo o Serviço Geológico do Brasil.

Fato é que o país tem mais de dois mil vulcões! 90 são considerados geologicamente ativos.

O vulcão Villarrica é um deles, constantemente estudado e monitorado por diversos órgãos. O Proyecto Volcán Villarrica mostra coletas constantes por lá.

Ainda sobre o Villarica: a última erupção foi recentemente, em 2015, e provocou a evacuação de mais ou menos 3 mil pessoas.

Os riscos considerados mais recorrentes no vulcão são os chamados “lahars”, uma espécie de material piroclástico e que é considerado pelo Servicio Nacional de Geologia y Minería – Sernageomin – altamente destrutivo, a “ponto de causar mais de 100 fatalidades durante o século XX”.

O vulcão Villarrica tem 2.847 metros de altitude, uma base de mais de 12km e uma cratera de 200 metros de diâmetro, que expele fumaça contínua. Dentro da cratera, há um lago de lava.

Outra curiosidade é que a atividade desse vulcão começou há 650 mil anos! E desde 1558 foram registradas pelo menos 49 erupções, a maioria delas efusivas.

O pico fica a apenas 15km de Pucón, cidade de aproximadamente 25 mil habitantes e que, por sua vez, está localizada ao sul do Chile, cerca de 780 km de Santiago.

Vulcão repleto de neve no Chile
Vulcão Villarrica visto em um dos pontos de parada da escalada

Pode parecer que o cume está perto. Você NÃO tem noção do quanto está longe. E do tanto que você precisa subir para chegar até lá! Não se iluda…

Um parêntese: se você, assim como eu, gosta de saber sobre vulcões, o Programa de Vulcanismo Global mostra muitos dados interessantes.

Como é a experiência de escalar o vulcão Villarrica?

Magnífica! Pensa: não é todo dia que a gente escala um vulcão né! É arriscado?

Mas: claro… como eu falei no post sobre o Safári na África do Sul, tudo na vida é risco, precisamos estar cientes das nossas escolhas e assumir os resultados delas.

Voltando à experiência: quase que eu não subo no vulcão Villarrica. Motivo: mau tempo! Tinha olhado a previsão e tudo começou a mudar bem no dia em que eu ia chegar em Pucón, para a minha tristeza.

Comecei a peleja nas agências. Na primeira, disseram: “não será possível fazer a ascensão amanhã, mau tempo”. Entrei em outra. Mesma resposta.

Ainda assim, saí andando pelas ruas de Pucón em busca de outras agências que pudessem fazer a subida.

Eu tinha um fio de esperança apesar de quase tudo mostrar o contrário. Seriam apenas dois dias inteiros em Pucón.

Afinal, só seria possível escalar no sábado, em que a previsão era de tempo parcialmente nublado. No domingo a chance era zero, previsão de chuva o dia inteiro.

E não é que deu certo!

“Amanhã terá Villarrica sim! Mas olha só como será:” disse a moça, mostrando a previsão do tempo no computador. Ela disse algo parecido com:

Chegaremos até a base do vulcão às 6h30. Se o cume não estiver muito encoberto, seguiremos. Vamos monitorar constantemente o tempo. Aqui mostra que estará parcialmente nublado, com sol, até meio dia. Qualquer mudança brusca retornaremos e o dinheiro será devolvido.

E ainda deu uma dica muito importante:

Comam bastante carboidrato hoje e durmam cedo.

Pronto! Bora dormir. Afinal, já eram 9 horas da noite e eu teria que acordar 05h30. Já era para eu estar no sono REM.

Só que ainda tínhamos que comprar comida – para comer carboidrato rs – e ir para a pousada, que ficava a uns 5km.

E olha só: perdemos o cartão de crédito.

Não encontramos o cartão, comemos pouco carboidrato, dormimos poucas horas e fomos assim mesmo. Claro, uai. Custamos a fechar o passeio e ainda nem estava totalmente garantido que ele iria rolar.

kit escalada vulcão com bilhete escrito "sucesso"
Cheguei na agência no começo da manhã e tinha esse bilhete do nosso guia!

A subida

Dentro da van, 11km subindo até chegar à base do vulcão. E eu olhando sem parar para o céu, otimismo é meu sobrenome.

Chegamos e lá tive aquela visão INDESCRITÍVEL do vulcão. E lá estava o cume! Iluminado pelo sol do amanhecer. Tempo meio instável, mas escalada autorizada.

Mochila com dois litros de água, dois sanduíches, duas bananas, uma barra de chocolate, equipamentos de segurança como máscara para a fumaça do vulcão, que é tóxica. Frio de uns 3 graus. Subida íngreme. Neve afundando até o joelho em algumas partes.

São cerca de cinco horas para chegar ao cume. E um detalhe muito importante: você anda em zigue-zague… ou seja, só para subir são 8km!

Quando fomos, o teleférico estava suspenso por causa do mau tempo e da quantidade de neve. Ele encurta boa parte do caminho.

Mulher subindo vulcão cheio de neve
No caminho… e subindo!

Na equipe éramos eu, meu marido, duas baianas e dois guias. Uma das nossas colegas desistiu bem no começo. A outra andou mais um pouco e depois também pediu ao guia para descer.

Eu, meu esposo e Pedro, nosso guia, seguimos o baile! Um passo de cada vez. Eu nunca curti tanto uma caminhada como essa.

Escalar o vulcão Villarrica é daquelas experiências em que cada pedaço da trajetória é inevitavelmente emocionante.

Paradas a cada 60 minutos para abastecer o estômago.

Casal descansando em cima de vulcão cheio de neve
Pense numa fome e sede! Quase que acaba toda a comida na primeira parada

11 horas da manhã: depois de quatro horas subindo, já era para estarmos bem próximos ao cume.

Mas estávamos a 400 metros dele. Parece perto e rápido né? Só que não… para andar isso ainda seriam necessárias mais DUAS horas de caminhada. Sabe por quê?

Porque, naquelas circunstâncias, você gastava cerca de meia hora para andar apenas cinquenta metros!

E aí o tempo fechou de vez. Olhei pra cima e cadê o cume? Só nuvens. Muitas nuvens.

Virando as costas para o cume do vulcão Villarrica: hora de descer

“Vamos descer”, falou o Pedro, nosso guia, que tem 59 anos e é um alpinista experiente e visivelmente apaixonado por montanhas.

Lembro do brilho no olhar dele ao contar das escaladas que já fez pelo mundo. E ele nos deu um banho de preparo físico. Subia o vulcão parecendo que estava correndo uma maratona.

Tiempo cerrado. No se ve nada! Es peligroso!

Tempo fechado, não se vê nada, é perigoso

Além disso, outras pessoas que voltavam do cume nos avisavam que não dava para ver mais nada.

Naquele momento bateu uma bad, claro! Como eu queria chegar ao cume e ver a cratera!

Ainda insisti com Pedro. Ele disse que teve gente que ficou perdido lá por dois dias por conta do mau tempo, pois não se enxergava 1 centímetro à frente.

Enquanto ele falava isso, juro: passou uma pequena avalanche perto da gente.

Aí realmente entendi que com natureza não se brinca. Nem vi a hora que virei as costas para o cume e fui caçar meu rumo de volta.

A descida: muito cansaço para uma pessoa só!

Por incrível que pareça eu não estava muito cansada. O esgotamento físico veio na descida…. SENHOR!

Para mim, a descida não foi fácil não, você força muito os joelhos, tem que ficar se equilibrando para não sair rolando vulcão abaixo…

Descemos parte do trajeto de esquibunda. Foi incrível! Mas mesmo assim andamos a maior parte do caminho, por causa das condições da neve.

Você anda, anda…. parece que está perto. Chega o fim do mundo mas não chega a base do vulcão.

casal subindo vulcão tomado por neve no Chile
Potinhos verde e rosa: eu e meu marido. Pontinhos lá pra cima: mais pessoas

Você não tem noção do tanto que eu caí na volta. As pernas tremiam. E olha que eu tenho um bom preparo físico. Mas acho que não tanto para subir em vulcões.

Ah, não custa reforçar que ter um bom preparo físico é importante. Principalmente se você for no inverno, nas condições em que fomos. No verão é mais tranquilo, quase não tem neve e tem teleférico.

“Vamos brasileiros, vamos!” Dizia o Pedro, porque o tempo só piorava.

Depois de umas três horas caminhando sem parar, exceto quando eu caía ou tinha que ajudar meu marido a levantar, porque ele também não parava de cair rs, avistei o carro. Que cena maravilhosa!

De dentro do carro, olhei para trás e cadê vulcão? Quase todo encoberto pelas nuvens.

Depois de tudo isso, nada que 13 horas de sono não me recuperasse.

Vulcão Villarrica: enjoy the journey!

Essa é a dica principal para você que pretende escalar o Vulcão Villarrica! Toda a caminhada é cheia de surpresas, desafios, superação, aprendizados… e paisagens impressionantes.

Você passa algumas tantas horas em um outro universo! Portanto, enjoy the journey! (Aproveite a jornada!) Cada segundo.

Não importa como ela for. Com cume, sem cume. Você ultrapassa todos limites que achou que tinha em uma escalada como essa.

O vulcão, a natureza, assim como a vida, é imprevisível, e exatamente isso que torna tudo emocionante.

Depois de tudo isso que descrevi aqui, ainda digo que essa experiência é indescritível!

Moça feliz em cima de um vulcão cheio de neve e no meio das nuvens
Uma foto vale mais do que muitas palavras!