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Se você vai aprender outra língua (ou outras línguas), então não deixe de ler este post! Irei compartilhar algumas pesquisas científicas que sugerem benefícios para a saúde do cérebro e, olha só: eles podem começar a aparecer bem cedo: em bebês!
Primeiro, é importante lembrar que a chamada de Sociedade 4.0 (ou Indústria 4.0, ou ainda Quarta Revolução Industrial) tem sido caracterizada por impactar profundamente as estruturas e a dinâmica social, em todas as as esferas. Máquinas cada vez mais autônomas e inteligentes de comunicação têm sido uma realidade.
E o que eu quero dizer com isso? Que hoje as habilidades profissionais exigidas têm sido outras. Se no passado, o profissional precisava ter conhecimento técnico de ponta, hoje é indispensável que ele tenha, por exemplo, competências de comunicação e inteligência emocional.
Capacidade de saber comunicar bem com o outro e em equipe, estabelecer diálogos colaborativos, resolver problemas complexos, comunicar-se de forma autêntica buscando autoconhecimento e outras competências ligadas à comunicação têm sido consideradas imprescindíveis em um profissional.
Por que aprender outra língua?
Neste contexto da Sociedade 4.0, aprender outras línguas, se já era importante, hoje é indispensável (há tempos deixou de ser um extra, um diferencial).
Para além dos consideráveis benefícios no mercado de trabalho atual, competitivo e mutante (profissões estão desaparecendo e outras surgindo), quero falar aqui dos benefícios de se aprender outra língua para a sua saúde!
Diversas pesquisas científicas associam o aprendizado de outras línguas a melhorias em vários aspectos: seja na socialização, em melhorias nas habilidades de comunicação… conhecimento de outras culturas, desenvolvimento da criatividade, da escuta e dos relacionamentos interpessoais.
Neste post vou compartilhar três estudos.
Bebês que ouvem mais de um idioma têm melhor controle da atenção
Olha só que interessante esta pesquisa, publicada em janeiro de 2019 na Developmental Science. Ela mostra que o aprendizado em comunicação já traz benefícios para o cérebro muito cedo: a partir de seis meses de idade!
É isso mesmo. Bebês criados em ambientes bilíngues têm maior controle atencional do que aqueles criados em ambientes monolíngues, segundo a pesquisa.
Os cientistas, de Toronto, no Canadá, realizaram dois estudos para avaliar a atenção e o aprendizado. Enquanto os bebês descansavam no berço, foram colocadas imagens em uma câmera. Os movimentos oculares de cada bebê foram medidos aproximadamente 60 vezes. No segundo estudo, os cientistas mudaram a regra de aparição das imagens.
E a conclusão é de que aqueles bebês expostos a ambientes onde eram falados dois idiomas aprenderam melhor a nova regra e anteciparam inclusive a imagem que iria aparecer na tela, por meio de movimentos com os olhos.
Importante lembrar que o estudo é inovador pois mostra que houve impacto cognitivo ainda que os bebês não fossem bilíngues de fato, ou seja, eles apenas ouviam duas línguas faladas por determinado período de tempo.
A base da cognição, do conhecimento, é atenção. Logo, o aprendizado de uma linguagem ou informação visual passa pelo mecanismo da atenção, e, assim, ambas podem influenciar o desenvolvimento atencional.
Ah, ainda falando do assunto, neste post eu escrevi sobre o conceito de atenção segundo a neurociência e, a partir disso, como podemos conseguir captar e sustentar a atenção das pessoas. Lá tem dicas para você que ser se comunicar melhor na internet e atingir mais pessoas.
Bilinguismo protege o cérebro contra o declínio cognitivo relacionado à idade
Os benefícios de se aprender uma nova língua podem ser vistos também na fase adulta. Estudo publicado em 2014 na Annals Neurology, jornal da ANA – American Neurological Association, sugerem efeito positivo do bilinguismo na cognição “later-life”, inclusive naqueles que adquiriram sua segunda língua na fase adulta.
Mais de 850 pessoas participaram do estudo, que foi realizado em duas etapas: pela primeira vez em 1947, quando eles tinham 11 anos, e depois em 2008/2010.
O estudo constatou que:
os bilíngues tiveram um desempenho significativamente melhor do que o previsto em suas habilidades cognitivas basais, com efeitos mais fortes na inteligência geral e na leitura.
Ou seja, ter outro idioma é uma forma de proteger o cérebro contra o declínio cognitivo relacionado à idade. Os benefícios observados se relacionaram à leitura, fluência verbal e inteligência geral em um grau superior à memória, raciocínio e velocidade de processamento.
Achei interessante a comparação que o estudo faz: assim como uma pequena redução na pressão sanguínea pode ter um efeito importante no número de AVCs, por exemplo, o mesmo pode ser dito em relação às pessoas que aprendem outro idioma, já que podem auxiliar na redução do índice de patologias cognitivas.
Falar mais de uma língua pode atrasar sintomas da Doença de Alzheimer
O diferencial deste estudo em relação a outros prévios foi ter analisado pacientes com Doença de Alzheimer (DA) e Comprometimento Cognitivo Leve (sigla em Inglês: MCI – Mild Cognitive Impairment), um estágio de risco para a DA. Os pesquisadores explicam que maioria das pesquisas focaram em jovens ou adultos.
Depois de mais de uma década de estudos, cientistas da Universidade de Concórdia, no Canadá, descobriram que conhecer um segundo idioma pode atrasar os sintomas cognitivos no Comprometimento Cognitivo Leve ou na Doença de Alzheimer.
A pesquisa utilizou técnicas sofisticadas e mais precisas de análise e também exames de Ressonância Magnética; e observou que pacientes com DA e MCI multilíngues apresentaram aumento da massa cinzenta e da espessura cortical nas áreas de cognição.
E o que isso significa? Que o aumento de massa cinzenta nessas regiões pode fornecer suporte ao funcionamento da memória. Ou seja: os pesquisadores acreditam que conhecer outro idioma é um dos vários fatores do estilo de vida que contribuem para a reserva cognitiva.
Pessoas multilíngues são capazes de compensar a perda de tecido relacionada à DA, acessando redes alternativas ou outras regiões do cérebro para processamento de memória.
O estudo foi publicado em janeiro de 2018.
Então, resumindo: várias outras pesquisas têm se dedicado ao estudo do conhecimento de outras línguas e os benefícios para a saúde. Muitas ainda precisam ser realizadas no intuito de verificar, por exemplo, o processo de aprendizagem, e não somente o estágio final dele, como diz o relatório da University College London, de fevereiro de 2019.
A minha ideia aqui é te mostrar como o aprendizado da comunicação favorece o cérebro e o quanto é importante nunca pararmos de estudar e reaprender.
A gente se vê no próximo post! Até lá!
Excelente texto! ??
Obrigada Victor! Que bom vc aqui 🙂