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Tem um tempo que ando lendo sobre o futuro da influência. Futuro pode soar um pouco presunçoso, no sentido de tentar prever alguma coisa.

Afinal, se nem os economistas conseguem acertar algumas previsões, pense eu. Mas arrisquei a ponderar com reflexões.

Por vezes me pego refletindo sobre como estaremos em 2030. Ou nem precisa ir muito longe: daqui cinco anos. O Instagram terá acabado? Ainda haverá redes sociais? Ou vai ser tudo holograma e telepresença? Continuaremos sendo criadores de conteúdo? Ou o metaverso vai ressignificar todo o nosso modo de existir e se comunicar na internet?

E a chamada influência? A profissão de mais de 6 milhões de pessoas no mundo? (segundo dados recentes da Rede Snack, citada nesta matéria)

Só no Brasil, 1 milhão de influenciadores digitais foram mapeados, segundo reportagem de outubro de 2019 da PropMark.

Rafa Kalimann prin instagram
Rafa é uma influenciadora digital que ficou mais conhecida depois da última edição do BBB.

Bom, primeiro, a gente tem que relembrar o que é de fato influenciar.

Somos influenciadores e influenciados

Em uma pesquisa rápida no dicionário online de sinônimos, tem-se que influenciar quer dizer sugestionar, inspirar, instigar, persuadir, motivar.

Antes de mais nada, não podemos esquecer que somos seres influenciadores e influenciados. Ora, somos animais sociais.

No sentido mais profundo do termo, a gente está sendo constantemente influenciado pelo que nos circunda: ambientes, experiências, pessoas.

Somos singular e plural. Re(construindo) nossas crenças, opiniões e comportamentos, nossa individualidade… no múltiplo.

Um artigo interessante fala mais ou menos sobre isso: Um trecho diz que:

A noção de indivíduo não pode estar ligada à de uma personalidade com características estáveis ou uniformes, que desempenha um “papel fixo”. Os papéis são variados e, portanto, o singular, construído ao longo do desenvolvimento, está entrelaçado com o heterogêneo, no que
diz respeito tanto à personalidade quanto às funções psicológicas individuais.

Bom, claro que tem muita investigação sobre a individualidade e a coletividade humana, e não seria possível colocar todos os pontos aqui.

Por agora, basta entender que a discussão sobre conceito de influência passa por essa questão.

Então a influência está na nossa vida desde sempre, bem antes do nascimento dos digital influencers.

Obviamente que algumas pessoas exercem mais influência que as outras. Nossos pais por exemplo. A psicanálise vai dizer isso com propriedade sobre a relação mãe-filho.

Neste caso, a influência é bem mais profunda do que a gente imagina. E, pensando bem, talvez para outros casos também.

Além disso, quem trabalhava na TV por exemplo, tinha grande poder de influência. Atores, jornalistas, celebridades.

Instagram Padre Fábio de Melo
Padre Fábio de Melo é outro influenciador brasileiro bastante conhecido nas mídias

Blogs, revistas e artigos de especialistas em marketing e comunicação consideram que influenciar tem a ver com provocar algum tipo de mudança, direta ou subliminar, de comportamento e/ou atitude.

Logo, o influenciador tem o “poder” de fazer as pessoas pensarem ou fazerem algo, mudarem de percepção, comprarem uma ideia. E faz isso através do seu conteúdo: seja ele produto, serviço, lifestyle

Também tenho visto que, mesmo que a pessoa não se intitule como digital influencer e trabalhe em outro segmento, ela acaba se tornando referência para além de sua área de atuação.

Por exemplo: artistas, alguns jornalistas, jogadores de futebol… como alguns perfis que coloquei na foto de capa deste post.

Quem te influencia e por quê?

Já se perguntou isso?

Eu já. Por que eu sigo por exemplo a Anitta? E a Ana Paula Padrão? As duas têm áreas de atuação bem distintas, mas compartilham de coisas que se conectam comigo.

Eu me conecto com elas por determinadas tags, como o empreendedorismo e mulheres. Ana Paula Padrão, por exemplo, deixou a TV para empreender e fala muito sobre questões relacionadas ao ser mulher (conteúdo maravilhoso). Anitta é uma artista sobretudo super empreendedora.

Foto do Instagram Ana Paula Padrão na praia
Aniita Capa Forbes print Instagram

Mas, também as sigo por outras coisas da psique humana que eu não saberia dizer. A conexão mais profunda da qual falo é difícil de descrever. Talvez a autenticidade de ambas.

Claro que também sigo mais um monte de influenciadores. Alguns nem se denominam como tal mas me influenciam.

Por outro lado, eu estava aqui pensando em quantas pessoas já me influenciaram no passado e hoje não mais. Troquei de influenciadores.

E isso é normal, porque a vida é dinâmica, as coisas mudam, a gente muda, mesmo perceber. Já dizia o sábio filósofo Heráclito: a gente nunca entra duas vezes no mesmo rio.

Logo, é claro que o mundo da influência está mudando. Hoje temos até influenciadores virtuais, que não são pessoas, mas imagens de computador. Sim, acredite. E têm milhões de seguidores no Instagram.

Tendo em vista tudo isso, palpites sobre o futuro da influência não faltam. Trouxe aqui apenas três.

1. Futuro da influência: Ser influenciador X ser popular

Essa discussão já existe mas creio que vá ganhar cada vez mais espaço no futuro.

Ser influenciador é diferente de ser popular, de estar em evidência.

Você pode simplesmente postar uma foto, ter muitas curtidas e ponto. É isso. Você pode ter milhares de seguidores. No entanto, as pessoas não se engajam para além das curtidas.

Claro que a curtida tem a sua importância, mas por si só é muito superficial.

Ou seja, influenciar tem a ver com uma conexão mais profunda, íntima entre influenciador e público.

Para mim, influência tem a ver também com a própria etimologia do conceito de comunicação. O sentido de compartilhar algo.

Isso por que o influenciador e sua comunidade teoricamente compartilham de interesses e anseios semelhantes.

Um sentimento de identificação deve existir. Algo mais subjetivo.

Melina Lemos perfil instagram
Sigo esta influenciadora há um tempo e gosto muito dela! Super autêntica!

2. Futuro da influência: os pequenos influenciadores

Eu aposto neles. Nano influencers, aqueles com até 5 mil seguidores, e os micro, cuja comunidade varia entre 5 e 100 mil.

Pense comigo: é mais fácil, por exemplo, responder aos seus 5 mil seguidores ou aos seus 100 milhões?

O conceito de comunidade que falei acima, no sentido de gerar uma relação mais profunda com o seu público, tende a ser mais fácil – ou não – de se estabelecer a partir da quantidade de pessoas existentes naquele círculo social.

E, no caso dos pequenos influenciadores, pode haver mais facilidade de gerar uma comunicação mais “íntima”(não no sentido de expor coisas da vida pessoal) mas de próxima aos seguidores.

Mas claro que também depende do próprio influenciador né. Do nicho dele, do seu propósito.

Ou seja, para mim, o crescimento dos pequenos influenciadores vem junto com o que falei no item anterior.

Um grupo pequeno ou médio de pessoas que compartilham de anseios e dores. Quem tem interesse fica, quem não tem provavelmente sai.

Mas, melhor menos pessoas e de fato integradas com o que vc faz, não? Há tempos número de seguidores deixou de ser imprescindível na influência. Ele é importante, mas sozinho não diz nada.

Além disso, alcançar mais gente de forma orgânica (sem publicidade) tem sido uma tarefa árdua em virtude dos algoritmos super amigáveis das mídias.

Logo, concentremos em qualidade e não quantidade.

3. Futuro da influência vai exigir MUITO autoconhecimento

Essa é a reflexão mais importante do futuro da influência para mim neste momento, por uma série de questões.

Li alguma reportagem que, em geral, o influenciado costuma desenvolver uma certa idolatria pelo influenciador.

Não é muita novidade né.. só lembrar de alguns fãs fanáticos que até matam seus ídolos.

Além disso, essa mesma reportagem diz que a pessoa influenciada pode ter o pensamento de “se fazer igual ao influenciador para ter o mesmo sucesso que ele”.

Faz sentido, acho que o próprio conceito de influência nos faz pensar isso.

Mas aqui eu vejo dois problemas importantes: a idolatria e a imitação.

Então desejo que o futuro da influência tenha menos pessoas venerando as outras como se o influenciador não tivesse espaço para ser humano de fato.

Quando é, passa de “fada sensata” a “cancelado”.

Vale lembrar: admirar e se inspirar é diferente de idolatrar.

Além disso, espero que o futuro da influência possa estimular a autonomia. Como assim?

Ou seja: temos estratégias que funcionam para um grupo, ou grande parte das pessoas. Compramos ideias, produtos, serviços dos outros.

Mas, ao mesmo tempo, precisamos entender que cada um é cada um. Precisamos conversar mais sobre a individualidade na coletividade.

Caso contrário, viveremos uma em uma eterna comparação e tentativa de fazer exatamente o que o outro faz para que tudo funcione.

Dito tudo isso, concluo: no futuro da influência, teremos, mais do que nunca, que recorrer à comunicação, à filosofia, à psicologia, às ciências humanas, às neurociências.

Precisaremos entender minimamente por que somos o que somos e fazemos o que fazemos. Vamos conseguir?

Bom, muito se sabe sobre o cérebro, talvez uma gota no oceano.

Mas, ainda assim, acredito que é a trilha de acesso a uma relação mais autêntica com os outros.

O futuro da influência vai exigir muito autoconhecimento do influenciador e do influenciado, ou seja, de todos nós.

Para lidar, por exemplo, com a cultura do cancelamento, fenômeno da comunicação digital moderna em que se provoca um movimento de manada para a morte virtual de uma pessoa.

Para lidar com as próprias mudanças do mundo da influência. Tanta coisa acontece a todo o momento… o que dizemos hoje pode não valer amanhã.

Para lidar com as críticas do outro quando postamos algum conteúdo.

Para lidar com as métricas. Não, não adianta você falar que não é afetado por elas. Todos nós somos.

Eu acredito que o futuro da influência vai exigir mais autoconhecimento para que possamos nos comunicar de forma mais genuína e para convivermos melhor.

Por ora, eu acho que é isso. Não trago verdades universais, mas reflexões. E você, o que acha?

6 Respostas para “O Futuro Da Influência Digital: 3 reflexões”

  1. Excelente reflexão, adorei o texto!
    Acredito que tirar o influenciador do pedestal, ajude as pessoas a diminuírem a comparação de suas vidas com a das outras pessoas.
    No meu ponto de vista esse é o aspecto mais doentio das redes sociais.
    Pois cria sempre uma sensação de insatisfação nas pessoas.

    Obrigada pelo texto Dani.

    1. Oi Carolina! Eu é que agradeço por vc comentar aqui ? e sim, acho que precisamos repensar esses aspectos das relações humanas, que se estendem com forte peso para as mídias sociais. Tenho pensado muito sobre o papel do influenciador, e acredito que a postura do mesmo de se estabelecer de forma mais clara como um ser humano que está em constante aprendizado pode ajudar a equilibrar essas tensões…

  2. Dani, sempre nos surpreendendo com seus artigos!! adorei a parte que você fala sobre os pequenos influenciadores, porque eu vejo mais interatividade quanto a esse tipo de influencer sabe? eles são mais “acessíveis” do que pessoas que possuem um milhão de seguidores! eu já deixei de seguir várias pessoas que a gente interage e não é correspondido. Muito bom o texto!! Parabéns!!!!

    1. Oieee Pri! Exatamente. Sei da dificuldade que deve ter um influenciador de 100 milhões de seguidores para responder a todos nós, por outro lado fico pensando que é preciso haver maior interação. Vamos ver como fica isso no caso dos big influencers né.. obrigada pela mensagem aqui!

  3. Obrigada por partilhar essa percepção tão peculiar e pertinente! Me sinto encantada com o tema e esta foi uma das visões mais originais que já li. Obrigada!

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